1 de abr. de 2010

DJAN E A EXPOSIÇÃO NO CARTIER


Alguns dos maiores nomes da arte de rua do mundo chegaram a Paris na semana passada para a exposição “Né Dans La Rue: Graffitti” na Fundação Cartier. É a maior retrospectiva do gênero já feita no mundo. Nunca uma mostra foi tão a fundo na história e no desenvolvimento desse estilo de arte, contando a historia completa, desde o começo, em NY nos anos 70, quando o Wild Style foi criado.

Estão aqui os pioneiros desse movimento, como P.H.A.S.E 2, Part 1 e Seen. Uma enorme tela de Jean Michel Basquiat e duas de Keith Haring estão na parede, enquanto fotos e filmes como Style Wars e Wild Style são exibidos em TVs de plasma em uma das salas. Na outra, de pé direito alto e paredes de vidro, vários artistas preparavam suas obras para abertura, que aconteceu no numero 261 do Boulevard Raspail, na região central de Paris. Basco Vazko, do Chile, Barry McGee, Delta e Boris Tellegen, da Holanda Gerard Zlotykamien, de Paris, Nug de Estocolmo e alguns outros pintavam freneticamente suas telas.

Para surpresa de todos, o artista escolhido para pintar a fachada do prédio de vidro da Fundacão Cartier não foi nenhum dos acima citados. Os curadores analisaram os trabalhos e entregaram para o pixador de São Paulo Djan Ivson da Silva, conhecido como Cripta, a tarefa de fazer um enorme pixo na parte mais nobre da exposição, a fachada do prédio envidraçado.

Enquanto todos eles usavam spray colorido, Cripta pediu tinta látex e rolo de pintura. Enquanto todos levaram dias para terminar os trabalhos, Cripta levou 15 minutos. E para surpresa de todos, foi ovacionado pelos curadores da mostra. “Era disso que precisávamos, algo novo, selvagem e desconhecido” disse Thomas Delamarre, um dos curadores da mostra.

O domingo foi o grande dia. De manhã chegaram os jornalistas. Djan deu entrevistas para a TV alemã, BBC, Lê Monde, L’Expresso, Art Magazin, para um jornal russo e muitas outras. Os grafiteiros gringos que até ontem olhavam torto para aquele maloqueiro de bombeta e havaiana vieram pedir autógrafos. Barry McGee disse que a pixação é o novo Wild Style, e que a arte de rua no resto do mundo vai mudar, seguindo os passos da pixação. Os fotógrafos se acotovelaram para clicar o vândalo paulista, que mal podia esconder o sorriso.

Na sala ao lado, o filme PIXO, que dirigi ao lado do Roberto T. Oliveira, passava pela primeira vez. Confesso que não esperava que fosse tão bem recebido. O diretor da Fundação Cartier, um francês marrento que não falava com ninguém chegou com um sorriso de orelha a orelha e disse: “Estou arrepiado. O filme é uma obra-prima. Vou ligar para o David Lynch agora, ele precisa ver isso”. Menos de duas horas depois da estréia começaram a chegar os convites. Veneza, Viena e Amsterdã, só pra começar. Fudeu!

Pixação é um crime, é vandalismo, é errado? Sim. Mas também é uma forma de expressão que nunca foi analisada como deveria pelas autoridades artísticas e policiais no Brasil. Nem com a invasão de grupos de pixadores a três galerias de arte, os críticos e curadores pararam para analisar esse fenômeno gigantesco que está cobrindo de tinta preta a cidade de São Paulo. Para um movimento que tem na essência a busca pelo reconhecimento, essa talvez tenha sido a maior conquista.

Muita gente vai chiar, mas Djan está muito seguro do que está fazendo. Cripta, que ficou conhecido por escalar e pixar os maiores prédios de SP, viu em Paris a chance de escalar algo muito maior que um prédio. Ele aceitou o desafio e escreveu o nome da pixação paulistana na história da arte mundial. O mundo parou pra ver e tentar entender a pixação de São Paulo.
Nao sou critico de arte, curador, policial, juiz ou promotor pra dizer se é arte, crime ou os dois. Não sou eu quem tem que dizer se é ou não é. Só sei que a cidade está coberta de tinta e todos os dias centenas de moleques se arriscam pra pixar qualquer espaço que os faça serem mais notados.
No dia em que os especialista decretarem que a pixação é uma arte, São Paulo automaticamente entrara para o livro dos recordes como a maior galeria a céu aberto do mundo.

FONTE: REVISTA TRIP - ESCRITO POR JOÃO WAINER







VITCHÉ

NUNCA - I BELIEVE IN COLORS, JOURNEY IN MILAN